Não há dúvida que algumas pessoas se destacaram ao longo da história devido às mudanças que sucederam os seus trabalhos. Seja formulando novas teorias que mudaram as antigas concepções sobre a natureza e seus fenômenos, assim como Charles Darwin nas ciências biológicas e Isaac Newton na física, ou desenvolvendo novos sistemas e invenções, como Henry Ford e Leonardo Da Vinci, é certo que alguns nomes sempre estarão presentes em determinadas discussões. No mercado financeiro não poderia ser diferente.
Ao analisar o percurso de cada um desses, é possível notar que se empenharam desde cedo aos estudos e continuaram se dedicando ao ensino durante suas carreiras, assim como persistiram por seu lugar no mercado, contradizendo as noções comuns da época e se mostrando extremamente capacitados para ir longe e conseguir transformar oportunidades em lucro e inovações.
Representando o sonho de ser bem sucedido e milionário, Warren Buffet, Benjamin Graham e George Soros são alguns dos investidores mais ricos e mundialmente conhecidos da história, que coincidentemente, ou não, fizeram sua fortuna em Wall-Street.
Um inglês, um americano e um húngaro. O “pai do value investing”, o “oráculo de Omaha” e o “homem que quebrou o banco da Inglaterra”. Esses são os três grandes nomes do mercado financeiro que serão tratados nesse texto.
Benjamim Graham
Nascido em 1849, em Londres, Benjamin Grossbraum se muda ainda quando criança para Nova York onde, durante a primeira guerra, ele e sua família judaica são obrigados a mudar de sobrenome devido às perseguições alemãs.
Mais tarde, o jovem começa seus estudos em economia na Universidade de Columbia, onde se forma aos 20 anos, com uma bolsa de mérito estudantil. Ao se formar, Graham decide, ao invés de ser professor universitário, ir para Wall-Street e assim inicia sua carreira de investidor. No entanto, vítima das ações que levaram à quebra da Bolsa em 1929, seus negócios implodem, levando-o a desfazer-se de seus ativos e pensar em novas estratégias de compra e venda de ações.
A partir dessa experiência, o economista desenvolve seus principais conceitos – security analysis, valor intrínseco e a diferença entre investimento e especulação – os quais, dão luz a famosa estratégia de “buy and hold” (da qual ele é considerado precursor). Essas ideias foram desenvolvidas em suas obras Security Analisys (1934) e O Investidor Inteligente (1949), considerados uns dos mais importantes livros sobre investimentos já escritos.
Ao buscar uma forma de comprar ações com desconto sobre o valor real da empresa, ele surge com o conceito de “valor intrínseco” – que diz respeito ao verdadeiro valor da empresa, considerando fatores tangíveis e intangíveis. Com essa ideia, ele segue pensando que ao comprar um ativo deve-se analisar os riscos de desvalorização e adquiri-lo com um desconto significativo no seu valor intrínseco, para assim obter uma margem de segurança que lhe ofereça conforto em momentos de baixa. Pois, ao considerar que o mercado naturalmente corrige os preços, essa seria uma forma segura de investir.
Assim, Graham atribui grande importância ao cálculo de estimativa de valor de uma empresa, afinal, com isso, é possível se preparar para os momentos de volatilidade do mercado, que certamente irão acontecer e, tirar vantagens deles. Dentro também dessa perspectiva, o investidor sugere a compra “espaçada” e disciplinada das ações de uma empresa específica para atingir um preço médio razoável e desejável, além da diversificação da carteira para diminuir e controlar riscos.
Para ele, “uma operação de investimento é quando, através de análise criteriosa, promete assegurar um retorno principal e adequado. Operações que não satisfazem estes requerimentos são especulativas”. Dessa forma, ao juntar essa ideia à de que os resultados estão diretamente ligados a intensidade do trabalho, elabora-se, segundo Graham, a estratégia de buy and hold.
As ideias de Benjamin Graham foram e ainda são fielmente seguidas e estudadas em todo o mundo, principalmente devido ao sucesso de seu aluno mais famoso no mercado financeiro, Warren Buffet.
Warren Buffet
Tido como um dos investidores mais importantes do mercado financeiro e um dos homens mais ricos da atualidade (sua fortuna gira em torno de U$90 bilhões), Warren Edward Buffet nasceu em 1930, na cidade de Ohama, durante a Grande Depressão nos Estados Unidos.
Sua experiência com o mundo de empreendimentos e do mercado financeiro começou cedo, seguindo a figura trazida pelos homens de sua família – seu pai, corretor de ações, e seu avô, empresário. Começou a entregar jornais e vender algumas coisas (como balas, revistas e Coca-Cola) para complementar o dinheiro que recebia por semana dos pais (5 centavos de dólar à época) e, aos 11 anos comprou suas primeiras ações da empresa hoje conhecida como Citgo. Aos 13 anos o jovem fez sua primeira declaração de imposto de renda e conseguiu restituir U$35 dólares. Com todos os projetos que ele empreendeu desde sua infância, Buffet já possuía uma quantia impressionante de aproximadamente U$90 mil dólares (em valores corrigidos para os atuais) ao se formar no colégio.
Após o colégio, Buffet acelerou seus estudos e se formou com 19 anos na Universidade de Nebraska. Depois, foi para Universidade de Columbia, onde conheceu Benjamin Graham. Mais tarde, além de seu mestrado em economia, ele também se graduou no Instituto de Finanças de Nova York.
A influência do professor fez com que Buffet passasse a se dedicar à estratégia exposta por Graham em “O Investidor Inteligente” e “Security Analysis”, que, resumidamente, significa operar comprando ações abaixo do seu valor intrínseco, que é o “valor real de uma ação”. Além disso, para o investidor, o tempo e os juros compostos são os seus dois principais aliados para maximizar a rentabilidade – caracterizando, dessa forma, sua estratégia de investimentos.
Sua carreira no mercado financeiro é marcada pelo êxito da junção de seu esforço empreendedor e de seu conhecimento de finanças. Nesse ambiente, ele é conhecido como o “oráculo de Ohama” e como “contrarian”, por sempre agir ao contrário das expectativas e, ainda assim, na maior parte das vezes acertar.
Isto posto, foi a Berkshire Hathaway Inc. que deu destaque ao seu nome. Adquirida com a técnica chamada de “Guimbas de Charuto” – que buscava identificar empresas que estavam em dificuldades mas ainda podiam dar um “último trago”, o que renderia lucro.
A empresa teve sua origem no setor têxtil, quase 100 anos antes do nascimento de Buffet, e hoje, depois de sua reestruturação, é vista como uma das empresas mais bem sucedidas dos Estados Unidos. Ao se tornar CEO da companhia em 1969, Buffet passou a diversificar os negócios, entrando no setor de seguros – que ele conhecia muito bem – e a partir daí a empresa só decolou.
Com isso, dentro de sua história, vemos o exemplo de um homem que se dedicou incansavelmente ao seu trabalho e estudos e, diante disso, entre erros e acertos, construiu um legado e fortuna admirados por muitos ao redor do mundo. Como contraponto teórico-estratégico de Buffet, mas que da mesma forma conquistou uma enorme fortuna, o investidor George Soros se posiciona no mercado de uma forma um tanto quanto oposta à de Buffet.
George Soros
George Soros, um dos milionários filantropos mais envolvido em polêmicas políticas das últimas décadas, teve uma infância conturbada quando estava em seu país natal.
György Schwartz, nome com o qual foi registrado, e teve que ser mudado devido à perseguição alemã por judeus na época, nasceu em 1930, em Budapeste. Ainda criança, ele foi enviado por seu pai para morar com um oficial húngaro, como se fosse seu afilhado, e ganhou mais um nome devido às perseguições da Alemanha, Sandor Kiss. Mais tarde, com 17 anos, após a invasão soviética na Hungria, Soros se mudou para a Inglaterra.
Ao iniciar seus estudos, Soros entra, no final dos anos 1940, na London School of Economics, e lá tem contato com o filósofo Karl Popper. Popper é conhecido por ser crítico do método científico da indução e por ter formulado o princípio da falseabilidade. Ao duvidar de “certezas absolutas” e atribuí-las ao uso da força ele desenvolve a ideia de uma “sociedade aberta” sem imposições, a qual inspira a criação da organização não governamental de Soros, a Open Society Foundation.
Soros se graduou em filosofia em 1951 e obtém seu mestrado em 1954. Após isso ele começa a trabalhar no banco de investimentos Singer and Friedlander, em Londres, e inicia sua carreira no mercado financeiro. Dois anos depois, ele se muda para Nova York e entra para Wall-Street trabalhando em diversos bancos comerciais e empresas onde passa a desenvolver sua filosofia de investimentos.
Anos mais tarde Soros, junto com seu sócio Jim Rogers, funda sua própria gestora, a Soros Fund Management, que depois é renomeada para Quantum Group of Funds. O seu primeiro fundo, em que apostou principalmente na variação de taxas de câmbio e oportunidades de curto prazo, começou com um patrimônio de US$ 12 milhões e acumulou cerca de US$ 44 bilhões em ganhos até 2011, quando virou um fundo de investimento exclusivo para gerir a fortuna da família de Soros.
Uma de suas histórias mais polêmicas, que caracteriza sua maneira de investir, é também a que deu origem a seu apelido mais famoso, “o homem que quebrou o banco da Inglaterra”. Soros apostou contra a libra, em 1992, acreditando que a moeda estava supervalorizada e, com essa operação, lucrou US$ 1 bilhão no dia 16 de setembro de 1992, que ficou conhecido como a quarta-feira negra na Inglaterra. O Tesouro britânico perdeu bilhões em reservas, forçando a retirada da libra do Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio.
Com um estilo mais agressivo e ousado, sua estratégia, que pode ser considerada oposta à do grande investidor Warren Buffet, se baseia principalmente em assumir riscos com apostas rápidas e de alta alavancagem. Para o investidor, a diversificação da carteira e uma postura racional em relação às operações são imprescindíveis para o meio financeiro.
Tendo como base de estudos a filosofia, Soros adaptou a Teoria Geral da Reflexividade de Popper para o mercado de capitais, dessa forma ele diz ter uma nova perspectiva sobre o mercado de ações. Essa teoria leva em conta os conceitos: falibilidade, que diz que em situações com seres pensantes a visão destes é parcial e distorcida, e a reflexividade, que por sua vez diz que tais visões podem distorcer a realidade.
Dessa forma, a teoria de Soros contradiz a concepção neoclássica de que o entendimento é passivo e a participação é ativa e de que, por conseguinte, os participantes do mercado agem racionalmente, baseados em um conhecimento perfeito. Para ele, esses dois papéis- o entendimento e a participação- interferem um com o outro, tornando impossível essa premissa neoclássica. Seu ponto de vista diz que os agentes não podem obter conhecimento perfeito do mercado porque suas percepções estão sempre afetando o mercado e o mercado está sempre afetando suas percepções. E, junto disso, afirma que os mercados financeiros são caracterizados pela discrepância entre a percepção dos participantes e o estado real das coisas, logo, para ele o mercado não é “eficiente”.
Como foi visto, há diversos caminhos, perspectivas e estratégias no meio financeiro que podem conduzir ao sucesso. De fato, essas figuras que aqui foram retratadas se diferenciavam, se tornaram grandes modelos e também produziram uma vasta quantidade de material teórico excepcional para estudar sobre o mercado financeiro, assim como seus respectivos “mentores”. À vista disso, a lição que fica para quem está começando a seguir carreira nessa área é se inspirar com esses grandes nomes e se começar a traçar sua própria história.