Risco em Renda Fixa


Quais os riscos de investir em renda fixa?

Um dos principais fatores que o investidor deve observar ao escolher algum investimento é o quanto ele está disposto ao risco. Alguns com o perfil mais  agressivo dirão que ao compor uma carteira diversificada em ativos de renda variável já se é possível minimizar consideravelmente as possibilidades de retornos diferentes do esperado. Entretanto, nos últimos meses, por conta do aumento dos casos do novo Coronavírus (COVID-19) e da queda na atividade econômica gerada pelo lockdown, as bolsas de valores globais entraram em um cenário de alta volatilidade e não seria diferente com a bolsa brasileira (B3). 

Sendo assim, é de suma importância ter uma parte dos investimentos alocados em renda fixa, que possuem uma maior segurança e contribuem para a proteção do patrimônio. Porém, como qualquer outro ativo, investimentos em renda fixa – Títulos públicos , CDBs, LCIs, LCAs, Debêntures, Notas promissórias e etc – também possuem riscos, sobre os quais falaremos adiante. 

O que é Renda Fixa?

Contratos de renda fixa são obrigações cujo rendimento é definido no momento da compra do título. Sendo que essa taxa de referência pode ser pré-fixada (valor dos rendimentos é determinado no momento da aplicação) ou pós-fixada (a rentabilidade pode ser atrelada ao DI, IPCA, SELIC, TBF, IGP-M etc.). Dessa forma, o mais importante é compreender que esses investimentos funcionam como um empréstimo ao emissor do título, isto é, são títulos de dívida. 

O que é Risco?

Risco é a possibilidade de um evento acontecer, seja ele positivo ou negativo, que resulte em algo diferente do esperado. Em aplicações financeiras, o risco tem relação direta com a rentabilidade. Risco e volatilidade são variáveis diretamente proporcionais, quanto maior o prazo e o risco, maior tende ser o retorno do investimento.

Risco de Crédito

Risco de crédito está relacionado a perdas oriundas do não pagamento das obrigações por parte da instituição emissora do título, seja durante a aplicação, com o pagamento de cupons, ou no vencimento do título, com pagamento dos rendimentos + principal. Portanto, esse risco está relacionado à solidez da empresa ou banco emissor. 

Com o intuito de ganhar mais confiança do mercado, as empresas contratam agências de rating (Moody’s, Standard & Poor’s e Fitch Ratings), que são especializadas em classificar o risco de crédito das companhias. São usados como parâmetros na análise: estabilidade financeira e capacidade de caixa; o nível de endividamento de curto e longo prazo da instituição; histórico de crédito; existência ou não de calotes anteriores e o nível de governança corporativa da instituição. 

Quando uma empresa emite um título e não consegue honrar com seus pagamentos, seus investidores estão sujeitos a perdas financeiras por conta do risco de crédito existente. Portanto, quanto pior for o rating, maior será a taxa de juros exigida como retorno. 

Exemplo: Uma debênture classificada pela Standard & Poor’s como CCC, oferece um risco de crédito maior do que outra debênture com rating BB, com isso a primeira terá que oferecer um rendimento maior do que o da segunda. 

Risco de Liquidez

Outro tipo de risco existente em aplicações de renda fixa é o de liquidez. Risco de liquidez está associado à impossibilidade de vender o ativo no tempo e preço desejado, ou seja, quando não é possível converter o título em dinheiro facilmente. Baixa liquidez ocorre quando o ativo possui muita oferta e pouca demanda no mercado.

Exemplo: investimentos em imóveis são bons exemplos de aplicações com alto risco de liquidez, diferente de um CDB com liquidação em D+0.

Risco Soberano

Como o próprio nome sugere, o risco soberano está relacionado à possibilidade de um país não honrar com seus compromissos frente aos investidores estrangeiros, ou seja, o governo não ser capaz de gerar recursos suficientes para liquidar seus títulos de dívida. 

Risco de Mercado

Risco de mercado está relacionado a possíveis perdas de rentabilidade por conta das oscilações nos preços dos ativos. Tais oscilações derivam das mudanças nos preços das commodities, das taxas de juros, câmbio, entre outros fatores. O risco de mercado pode ser dividido em dois tipos: sistemático, que afeta todos os ativos do mercado e não sistemático, que é específico de um setor da economia. Normalmente, volatilidade e desvio padrão são utilizados como sinônimos de risco de mercado. 

Exemplo: o preço de uma NTN-B (Tesouro IPCA com juros semestrais) possui uma volatilidade maior que uma LTN (Tesouro Pré-fixado). Consequentemente, o risco de mercado ao investir em uma NTN-B é maior do que a de uma LTN. 

Dessa forma, é de suma importância saber calcular o prazo médio de um fluxo de caixa de um investimento. Uma das formas utilizadas pelas tesourarias de bancos e empresas é a Duration.

Duration de Macaulay

Criado em 1938, pelo financista canadense Frederick Macaulay, o conceito de duration busca analisar a sensibilidade do preço de um título em relação a mudanças nas taxas de juros. Assim, a duration depende de três fatores fundamentais: o prazo para resgate do título, o fluxo de pagamentos (com ou sem cupons) e a taxa de remuneração do ativo.

Basicamente, a Duration de Macaulay é a média ponderada do prazo que um detentor de um título levará para receber o valor principal investido. Quando calculamos a duration de um título, estamos trazendo a valor presente cada valor do fluxo de caixa futuro pela taxa de juros que o título oferece no momento do cálculo. 

Em títulos sem cupons intermediários (Bullet), como só existe um fluxo de caixa que será trazido a valor presente, a duration é o prazo da data de compra até o vencimento do título. 

Em títulos com cupons, a duration sempre será menor que o vencimento do título, pois a fórmula da duration “desconta” cada pagamento feito antecipadamente, o que diminui o prazo médio dos recebimentos. 

Matematicamente, a Duration de Macaulay é definida como a somatória dos fluxos futuros do título (cupons e principal), trazidos a Valor Presente, descontados pela taxa de juros negociada. 

Onde:
t = tempo
C = cupom de juros pago periodicamente
i = taxa de juros acordada
n = número de períodos
M = valor de face

Exemplo: Suponha um título prefixado com prazo de 3 anos, com taxa de 8,5 % ao ano, cupons semestrais de 10% e valor de vencimento (valor de face) de R$ 1.000 reais. 

Primeiramente, devemos converter a taxa de juros pré-fixada ao ano para semestral. Assim, a taxa a ser usada é {[(1+8,5%)^(1/2)]-1}, ou seja, a taxa semestral é 4,16%. 

Neste exemplo, vemos que a duration do título é de 4,95 semestres, apesar do prazo até o vencimento ser de 3 anos. 

Como pode ser observado, a duration mede o prazo médio que o detentor de um título irá recuperar o investimento feito ao adquirir o papel. Quanto maior a duration, maior o prazo médio e, portanto, maior o risco de mercado envolvido na aplicação. 

O valor dos títulos de renda fixa sofre influência das taxas de juros do mercado. Principalmente nos títulos pré-fixados e híbridos (taxa pré-fixada + algum indexador pós-fixado). Por exemplo, quando à taxa Selic sobe, às LTNs (Letra do Tesouro Nacional), sofrem um deságio, ou seja, se desvalorizam. Da mesma forma, quando a Selic está em queda, esses títulos se valorizam. 

Outra importante aplicação da duration é que o processo utilizado para encontrar o seu valor gera uma medida de risco, que demonstra o quão sensível o preço do título é, dada uma variação nas taxas de juros do mercado (SELIC e DI). 

Para os investidores individuais esse efeito costuma não ser tão relevante. Contudo, para um gestor de fundos de investimentos que também precisa gerar caixa para saques e retiradas dos cotistas, essas oscilações assumem um papel relevante e podem afetar diretamente a rentabilidade do portfólio. Portanto, é de suma importância ter uma ferramenta que permita estimar qual será o impacto das mudanças nas taxas de juros do mercado sobre os títulos que compõem uma carteira, para isso, utilizamos a Duration Modificada. 

Duration Modificada

A pergunta que se procura responder ao calcular a duration modificada é: qual a sensibilidade do título às alterações nas taxas de juros do mercado? O que vai acontecer com o título se a taxa Selic subir ou cair? 

O cálculo da duration modificada é praticamente o mesmo do de Macaulay, contudo, há uma modificação na parte final da fórmula:

Onde:
i = taxa do título até o vencimento;

n = número de cupons por ano.

Obs.: Para títulos sem cupom (ou com cupom anual), considerar n=1. 

Usando o exemplo anterior, temos uma duration de 4,95 e uma taxa de 4,16% ao semestre. Como os cupons são semestrais, considerar n = 1. Assim temos:

A interpretação dessa fórmula é que a cada 1% de variação na taxa Selic, teremos 4,75% de variação, em sentido oposto, no valor do título. Ou seja, se a Selic se valorizar 1% nosso título perderá 4,75% em seu valor e vice-versa. 

Sendo assim, para tomarmos decisões adequadas de investimentos, é necessário compreender todos os riscos inerentes às aplicações e desenvolver formas de quantificá-los.

Sugestões de leitura: 

BUENO, R. L. S.; RANGEL, A. S.; SANTOS, J. C. S. Matemática Financeira Moderna: 1. Ed. São Paulo: Editora Cengage Learning, 2011. 

NETO, A. A. Mercado Financeiro: 14. Ed. São Paulo: Editora Atlas, 2018. 


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