O contrato futuro é uma variante do contrato a termo, que acontece no âmbito das bolsas de valores. A grande maioria das pessoas, mesmo sem saber, já fez uso do mercado a termo em algum momento.
Suponha que no dia 12 de fevereiro você passou na banca da esquina a procura de algum gibi específico e, ao chegar lá, o mesmo havia se esgotado. O balconista diz que fará um novo pedido para você. Caso concorde em buscar o gibi na semana seguinte ao valor de R$ 10,00, você e o dono da banca estabeleceram um contrato a termo no qual o gibi é chamado de instrumento para entrega física.
O acordo foi firmado no dia 12 de fevereiro, quando é estabelecido o preço e as condições da operação. A troca entre as partes é realizada em uma data combinada ou quando o produto chegar.
Porém, sendo o mercado futuro uma variante do mercado a termo, alguns aspectos se diferenciam:
Primeiro: o contrato futuro é padronizado e não permite a flexibilização de parâmetros já estabelecidos. Para cada contrato existe o ativo objeto (Ação, índice, moeda, commodity, taxa de juros ou inflação), o tamanho do contrato (quantos Reais/Dólares por pontos), a variação mínima (centavos ou pontos), o lote padrão, o vencimento do contrato e o tipo de liquidação (na maioria dos casos financeira).
Segundo: os contratos futuros são negociados em bolsa, diferente dos contratos a termo que são negociados em balcão, criando um mercado com maior liquidez.
Terceiro: existe um ajuste diário nos preços dos contratos no mercado futuro, ou seja, há transferência de perdas e ganhos entre compradores e vendedores todo dia. Como no mercado futuro não são negociados ativos em si mas contratos de compra/venda, não existe desembolso por parte do comprador na negociação, apenas na liquidação, dito isso, para operar no mercado futuro é necessário uma garantia, seja em dinheiro ou em ativos como ações, CDBs, Títulos do Tesouro, etc. Essa garantia é uma porcentagem do valor do contrato a ser negociado e varia de acordo com o seu tipo.
No mercado futuro as posições podem ser encerradas a qualquer momento e, caso seja mantida até o vencimento, será automaticamente zerada.
Exemplo de ajuste diário:
Hoje é segunda feira e você fechou um contrato futuro que determina a entrega de um número específico de gibis a um preço de R$ 10,00 cada em um determinado dia no mês de março. Na quarta-feira o preço do gibi caiu para R$ 9,50. Nesse caso, todos os compradores perderam 50 centavos por gibi e devem transferir esse valor para a bolsa que repassa aos vendedores (o dinheiro deve ser transferido em até um dia útil).
Supondo agora que na sexta-feira o preço de fechamento do gibi foi R$10,20, então cada comprador recebe 70 centavos dos vendedores (R$ 10,20 – R$ 9,50). Na segunda-feira um vendedor notifica a bolsa que fará a entrega. O preço da entrega será de R$ 10,20, que é o preço do fechamento anterior.
O ajuste diário é o que mitiga o risco de crédito entre as partes, visto que o preço é marcado a mercado diariamente e, portanto, não há acúmulo de perdas, diminuindo o incentivo à inadimplência.
Por que usar o mercado de futuros?
Hedge de futuros
Hedge nada mais é que diminuir a exposição de algum investimento a grandes variações nos preços (volatilidade), ou seja, tentar eliminar a possibilidade de perdas futuras, principalmente em momentos incertos. O hedge pode ser feito tanto pelos vendedores quanto pelos compradores – o hedge de venda, chamado short hedge e o de compra, o long hedge.
Short hedge
No mês de fevereiro, um cafeicultor de Minas Gerais prevê que sua colheita de café renderá 1000 sacas no final de maio. Ele tem duas alternativas:
- Lançar contratos de futuros para sua colheita. No dia 1 de fevereiro, o contrato futuro de maio para o café está sendo negociado a R$ 450,00, sendo que o lote padrão é de 100 sacas de 60Kg.
- Colher o café sem lançar contratos de futuros.
Na primeira estratégia, o cafeicultor optou por fazer o hedge de venda (short hedge) da sua colheita, reduzindo seu risco para assim dispor de uma proteção em caso de queda no preço do café.
Suponha que em maio o café esteja sendo negociado a R$ 400,00 por saca. Caso o cafeicultor tenha optado pela primeira estratégia (lançar contratos de futuros), sua colheita está protegida. O contrato será liquidado no vencimento a R$ 450,00 por saca e ele não perderá dinheiro por causa da queda no preço.
Agora, se o cafeicultor optou pela segunda estratégia (não lançar contratos de futuros), sua colheita não foi protegida e ele terá que vender cada saca de café a R$ 400,00, que é o valor de mercado no dia que ele deseja negociar.
Long hedge
Anos atrás o McDonald’s tinha a ideia de lançar o hoje popular Chicken Mcnuggets, porém, na época o mercado de aves estava muito volátil, o que poderia acarretar em mudanças recorrentes no preço dos nuggets ou que o McDonald’s aceitasse margens menores na venda do produto.
A empresa queria fazer hedge do frango para que os custos de produção do
McNuggets não tivessem uma grande variação, então procuraram por Ray Dalio para que tentasse resolver o problema.
Como na época não havia mercado futuro para aves, Dalio teve que procurar uma solução diferente para fazer o tal long hedge para que o McDonald’s pudesse lançar seu novo produto.
O custo de produção das aves era basicamente o milho e o farelo de soja. Ray Dalio então contatou os produtores de frango para fazer um hedge na produção deles, criando um contrato futuro que os protegeria contra oscilações no preço da soja e do milho, permitindo assim que seus custos de produção fossem mais estáveis. Com os custos de produção travados, as variações no preço do frango não afetaram mais o seu custo, o que permitiu a criação dos Chicken McNuggets.
Suponha que o preço da soja no mês de fevereiro seja R$ 300,00 por saca e o
produtor de frango prevê que no mês de maio usará cerca de 450 sacas (o que equivale a um lote padrão) na sua produção de aves. Para não se expor às oscilações do mercado, ele resolve fazer um contrato futuro para travar seu custo com a soja.
Se em maio o preço da soja subir para R$ 350,00 por saca, o produtor de frango estará protegido e, por consequência, o seu custo de produção também, podendo assim manter seu preço de venda ao McDonald’s.
Contratos de Swap
Swaps são acordos entres duas contrapartes que têm como finalidade a troca de fluxos de caixa ao longo do tempo. Existem diferentes ativos que podem ser usados em contratos de Swap, sendo os principais: swaps de taxa de juros, swaps de moedas e swaps de crédito.
Suponha que uma empresa receba a maior parte de sua receita em dólares, ou seja flutuante, que representa seu ativo e, ao mesmo tempo, possui uma dívida em títulos que paga cupons mensais (em R$), seu passivo. Nesse cenário a companhia está exposta ao risco cambial, caso o dólar venha a despencar por algum motivo, sua receita estará comprometida.
Um dos instrumentos que podem ser usados nesse tipo de situação são os swaps. A empresa pode trocar sua dívida em reais por uma dívida atrelada ao dólar, a fim de diminuir sua exposição ao câmbio. Caso o dólar suba, a dívida da empresa sobe, porém, sua receita também. Se o dólar cai, sua dívida cai, assim como sua receita. Nota-se então que seus recebíveis e suas obrigações ‘’se anulam’’, mitigando o risco cambial.
Banco central e o swap cambial
Em tempos de muita volatilidade no mercado de câmbio, o Banco Central pode optar pelo uso de swaps como forma de controlar a alta da moeda norte americana. Quando compra swaps de dólar, o Banco Central troca fluxos de caixa com instituições financeiras. O BC recebe os fluxos atrelados a taxa de juros e a contraparte, fluxos ligados a variação do dólar.
Para proteger sua exposição à moeda norte-americana, a contraparte (instituições financeiras) entra vendida em dólar no mercado futuro, o que pressiona os preços para baixo.
Conforme demonstra a equação, o preço no mercado a vista é função do preço futuro (vice-versa), portanto, ao influenciar o preço da moeda no mercado futuro o BC consegue derrubar o preço do dólar à vista sem precisar vender suas reservas de moeda.