O cenário externo desafiador: Os desafios econômicos e políticos para 2019


Terminamos o ano de 2018 com a sensação e a esperança de que em 2019 seria melhor, o otimismo recaiu sobre a nação e foi amplamente sentido com os recordes que a bolsa brasileira quebrou no primeiro mês do ano. Mas este seria também o sentimento do americano ou do europeu? Quando olhamos para o além-mar, nos parece que o céu de brigadeiro não se estende até o Norte.

 

Meu objetivo aqui será explorar os riscos para 2019 e quais suas possíveis implicações. E já adiantando uma coisa nos parece bastante clara: 2019 será um ano mais desafiador nos mercados externos.

 

Já mesmo em 2018, diversos indicadores nos mostraram que o futuro nos preparava importantes pontos de inflexão, sendo os principais deles: (i) a desaceleração da atividade econômica mundial para 2019 anunciada pelo FMI; (ii) uma escalada na guerra comercial entre Estados Unidos e China; (iii) o aperto monetária deflagrado pelo Fed e também sinalizado pelo BCE; (iv) os desafios políticos que invariavelmente estariam na agenda econômica de 2019, como o Brexit, as discussões sobre o orçamento italiano, as eleições em países emergentes e na zona do euro.

 

A contração da atividade econômica mundial está intimamente relacionada com a desaceleração da produção industrial. O ciclo de expansão industrial atual (com crescimento acima da média histórica de 3.1%) já perdura por 3 anos e pode ser classificado como o segundo maior desde 1980. Sua desaceleração pode ser explicada tanto por um componente cíclico, como por choques econômicos ou financeiros que o antecedem. Em 2018 foi possível observar alguns destes choques, a começar pela queda no preço do barril de petróleo, que pode ser comparada à ocorrida em 2014, não em sua intensidade ou causas, mas em seus efeitos. O que se seguiu ao período do great oil crash foi uma desaceleração da atividade econômica em 2015 e 2016.

 

Atualmente, o nível dos preços do petróleo e das commodities sugere uma desaceleração ou ligeira contração no setor de mineração e petroleiro. Mas dado o seu peso relativamente alto na economia mundial (12%), e o fato de ter sido forte no ano passado – adicionando 0,7p.p. ao crescimento da produção industrial global – uma desaceleração neste setor ajudará a empurrar o crescimento da produção abaixo de sua tendência de longo prazo.

 

Guerra Comercial e o “fear of tariff

A guerra comercial travada pelo governo dos Estados Unidos contra a China com a prerrogativa do grande déficit na balança comercial entre os dois países é posta como um véu para a grande questão que é a disputa pela dianteira no setor de tecnologias estratégicas, como telecomunicações, microprocessadores, veículos self-driving e inteligência artificial. O governo americano tem buscado blindar empresas americanas em suas cadeias de processos contra o roubo de tecnologia.

 

Com isso, os efeitos diretos das tensões entre os dois países não serão observados no curto prazo. Já no aspecto secundário, o “fear of tariff” contribui negativamente para a expansão das cadeias de produção globais. Com a incerteza sobre o futuro e temendo tarifas, os investimentos produtivos são adiados e cadeias de produção são repatriadas. Este movimento de avanço de políticas protecionistas dificulta o processo de alocação das empresas em ativos no exterior e o fluxo de negócios.

 

Todos estes efeitos provenientes da Guerra Comercial, somados às condições do mercado de trabalho das economias desenvolvidas, pressionam os custos das empresas e devem gerar uma diminuição do crescimento dos lucros neste ano que se inicia.

 

O Mercado de Trabalho

O mercado de trabalho nestas economias está muito próximo ou, como no caso dos Estados Unidos, no nível de pleno emprego, pressionando assim os custos com salários. E a despeito da desaceleração prevista para o ano, a expectativa é que estas condições continuem estreitas. Na análise das vagas criadas pela economia americana, é possível notar que o processo não esteve restrito apenas ao setor industrial, intensivo em mão de obra, mas sim que foi dispersado entre todos os setores da economia.

 

Dado que alguns destes setores são mais resilientes frente a quedas na atividade industrial, pode-se esperar que a diminuição do ritmo na indústria não acarrete, no curto prazo, um aumento do desemprego.

 

Política Monetária

Estas evoluções, no entanto, contribuem positivamente para o ciclo de arrocho monetário encabeçado pelo Fed e sinalizado pelo Banco Central Europeu.

 

O Fed começou o ciclo de arrocho monetário em março de 2018, elevando quatro vezes a taxa básica de juros. Saindo de 1,25 – 1,50 para 2,25% – 2,50% e também reduzindo o seu balanço pela primeira vez desde o início do quantitative easing. Ainda que nesta última reunião a autoridade monetária americana tenha adotado um tom mais dovish, as condições financeiras se tornaram mais restritivas a partir de 2018. O fortalecimento da moeda americana ante seus pares também é um ponto a ser monitorado neste ano.

 

Este movimento foi seguido pela autoridade monetária europeia, que também sinalizou com o fim do QE para dezembro de 2018. Com a expectativa do primeiro aumento da taxa para o início de 2020. Já o Banco Central da Inglaterra (BoE na sigla em inglês) pode elevar a taxa de juros já em agosto de 2019.

 

Desafios Políticos

O primeiro desafio político enfrentado em 2019 foi a votação do acordo para o Brexit, como é chamado o processo de separação do Reino Unido da União Europeia.

 

No dia 15 de janeiro, a primeira ministra Theresa May colocou em votação seu plano para saída do bloco e sofreu uma das piores derrotas do governo no parlamento, com 432 votos contra a medida e apenas 202 a favor.

 

Os riscos agora recaem para um possível no-deal Brexit que seria a saída do Reino Unido sem nenhum acordo, e a tensão aumenta à medida que o prazo acordado entre o país e a União Europeia no Tratado de Lisboa para a saída, 29 de março de 2019, se aproxima.

 

As implicações econômicas para um no-deal Brexit podem ser bastante negativas, principalmente para o Reino Unido.

 

Outro ponto a ser monitorado em 2019 é a evolução do déficit primário italiano. No final do ano passado, a União Europeia demonstrou preocupações quanto ao orçamento italiano, que previa um déficit de 2,4% do PIB, e sugeriu que o país reduzisse as despesas, indicando que um desequilíbrio fiscal poderia acarretar uma grande instabilidade financeira num futuro próximo.

 

A Itália é a 3ª maior economia da zona do Euro e a segunda maior na relação dívida/PIB com 131.8%. Em primeiro fica a Grécia com 178.6%.

 

O governo italiano, formado pelo Movimento Cinco Estrelas e o partido de extrema direita Liga, chegaram ao poder prometendo acabar com a pobreza através de uma renda mínima para os desempregados, juntamente com promessas de redução de impostos. Para cumprir estas promessas, a Itália triplicou a meta de déficit do governo anterior de 0,8% do PIB.

 

Por fim,  a última cruzada do presidente Donald Trump. O Shutdown do governo americano que durou mais de um mês, tinha como objetivo angariar, frente ao Congresso, recursos para a construção do muro na fronteira com o México, mas acabou terminando de forma negativa para o presidente.

 

Nas eleições de meio período, os republicanos perderam maioria na Câmara, e mantiveram sua hegemonia apenas no senado. Há um ano das disputas eleitorais para a presidência, cresce o temor de alguma instabilidade proveniente das investigações em que Trump está envolvido.

 

O que nos resta saber, então, é se o paraíso que muitos parecem ver logo a frente de fato existe, estando agora mais próximo do Brasil que de outras potências estrangeiras, como a bonança que vem depois de longa tempestade, ou se há esperança excessiva em relação ao futuro próximo do país, um wishful thinking irrealista frente a um cenário externo desfavorável que pode afetar a economia brasileira por diferentes canais.

 

A boa (ou má) notícia é que a angústia que antecede a resposta a essa questão não tende a ser prolongada. Ao contrário da longa tempestade que foi a crise brasileira, a réplica que colocará um fim ou alongará o nosso otimismo vem já no curto prazo, provavelmente ainda em 2019.


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